As trajetórias negras na cidade de Joinville/SC: problematizando o “fenômeno da invisibilidade” (1858-1888)
Esta pesquisa está sendo desenvolvida no Programa de Educação Tutorial do curso de História da Universidade Federal de Santa Catarina (PET-História UFSC). É uma pesquisa qualitativa, que utiliza os arquivos da Igreja Católica como espaço para pesquisa e a História Serial como modo de tratamento das fontes. A temática da pesquisa leva em consideração que a história oficial da cidade de Joinville é influenciada por uma narrativa hegemônica que privilegia um grupo específico de pessoas, o de pessoas brancas descendentes de europeus, ao detrimento de outros grupos que estão presentes na cidade no tempo presente e que já estavam nesta região antes mesmo da data oficial da fundação da cidade: população negra e indígena. Tendo isso em mente, o projeto tem como temática a investigação das trajetórias negras da cidade de Joinville no século XIX, entre 1858 e 1888, a fim de problematizar o “fenômeno da invisibilidade” e a “história única” que acomete a história de Joinville. De início, não havia pensado em desenvolver uma pesquisa sobre escravidão, no entanto, as próprias fontes selecionadas me levaram até essa temática e considerei importante reconhecer isso. Tendo em vista o impacto que o sistema escravista tem na sociedade brasileira até os dias de hoje, como o próprio racismo e a desigualdade social. Desse modo, a pesquisa também se torna relevante nessa área de pesquisa, pois por muito tempo foi considerado que a escravidão no sul do Brasil era inexpressiva e pesquisas mais recentes criticam esse pensamento de que a economia escravista era períférica e irrelevante em Santa Catarina. Ainda, a pesquisa pretende investigar a partir dos assentos de óbito, batismo e casamento as trajetórias negras da cidade de Joinville. Também levará em conta o inventário de Salvador Gomes de Oliveira (1850), senhor escravista que tem nome recorrente nos documentos encontrados ao longo da pesquisa, e as cartas de sesmarias da mesma família para, a partir dessas fontes históricas, fazer uma leitura a contrapelo a fim de buscar trajetórias negras em Joinville. Em resumo, a problemática da pesquisa se configura em: quais são as trajetórias da população negra joinvilense no século XIX a partir da investigação dos dos documentos eclesiásticos da Freguesia São Francisco Xavier de Joinville (1857-1888)?
REFERÊNCIAS
ADICHIE, C. N. O perigo de uma história única. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
CONCEIÇÃO, Willian Luiz da. Ananse e as teias da história: branquitude, branqueamento e invisibilidade das populações de origem africana em Joinville/SC. In: CARDOSO, Felipe. Fragmentos negros: perspectivas sobre a presença negra em Joinville/SC/Orlando Afonso Camutue Gunlanda, Felipe Cardoso, Rhuan Fernandes. São Paulo: Editora Pluralidades, 2022.
LEITE, Ilka Boaventura. Descendentes de africanos em Santa Catarina: invisibilidade histórica e segregação. In: Leite, Ilka Boaventura (org.). Negros no sul do Brasil: Invisibilidade e territorialidade. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1996, pp. 33-53.
MAMIGONIAN, Beatriz G. Africanos em Santa Catarina: escravidão e identidade étnica (1750-1850). In: Fragoso, João Luis Ribeiro; Florentino, Manolo G.; Sampaio, Antonio Carlos Jucá; Campos, Adriana. (Org.). Nas rotas do império: eixos mercantis, tráfico e relações sociais no mundo português. 1ed.Vitória; Lisboa; Brasília: Ed. UFES; Instituto de Investigações Científicas Tropicais; CNPq, 2006, v. 1, p. 609-644.
SILVA, Denize Aparecida da. Plantadores de Raiz: Escravidão e Compadrio nas Freguesias de Nossa Senhora da Graça de São Francisco do Sul e de São Francisco Xavier de Joinville – 1845/1888. 2004. 121 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de História, Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2004. Cap. 3. Disponível em: https://acervodigital.ufpr.br/xmlui/bitstream/handle/1884/5787/Plantadores%20de%20Raiz.PDF?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 27 mar. 2025.
